domingo, 13 de maio de 2012

FELIZ DIA DAS MÃES ROGER WATERS






Nesse dia em que os filhos se lembram de suas mães, os presentes são dados, os restaurantes estão cheios e as homenagens são feitas, vale a pena lembrar de uma das mães mais famosas do rock: a mãe de Roger Waters. No entanto, a homenagem feita à senhora Mary Fletcher Waters não foi tão romântica assim.

Após a morte de seu pai, na Segunda Guerra Mundial, Roger Waters, com apenas cinco meses, passa a viver somente com sua mãe superprotetora, e a falta da figura paterna desencadeia uma série de transtornos em sua personalidade, como podemos perceber no problemático e sombrio personagem Pink criado por ele para a ópera rock “The Wall”.

A mãe criada por Waters nada tem a ver com aquela mãe idealizada, romântica; a mãe criada por ele é uma mãe que o protege em uma realidade de autoproteção, castração e medo, afastando-o dos perigos que um dia, sozinho, terá que enfrentar. No clipe acima podemos perceber que, mesmo adulto e teoricamente consciente dos seus atos e há algum tempo já desvencilhado das amarras maternas, Pink ainda não consegue pular o muro construído à sua volta pela própria mãe.

A música, baseada no jogo de perguntas, estabelecendo um diálogo entre Pink e sua mãe, mostra a insegurança do filho em relação às angústias da vida, em relação a que caminho tomar, já que até então todos os caminhos haviam sido tomados por ela. Percebemos essa insegurança nos primeiros versos da música: Mother, do you think they'll drop the bomb?/Mother, do you think they'll like this song?/Mother, do you think they'll try to break my balls?/Mother, should I build the wall?/Mother, should I run for president?/Mother, should I trust the government?/Mother, will they put me in the firing line?/Is it just a waste of time?.

A fala da mãe, no entanto, não responde às suas angústias, não responde às perguntas feitas por Pink, por talvez julgar que elas não devam ser ditas a ele a fim de protegê-lo, a fim de lhe esconder as verdadeiras respostas. Nessa intenção protetora, ela coloca mais um tijolo no muro em volta de Pink.

A segunda parte da música revela a parte mais interessante da relação de Pink com sua mãe e é nesse momento que a teoria psicanalítica entra. Quando Pink diz “Mother, do you think she's good enough/For me?/Mother, do you think she's dangerous/To me?/Mother will she tear your little boy apart?/Mother, will she break my heart?, podemos pensar na teoria desenvolvida por Freud do “Complexo de Édipo”, que se caracteriza pelo sentimento contraditório de amor à figura materna e hostilidade à figura paterna.

Tal teoria foi desenvolvida por Freud tem como base o personagem principal de “Rei - Édipo”, tragédia grega escrita por Sófocles. Na tragédia, Édipo, sem saber o que fazia, mata seu pai Laio e casa-se com sua mãe Jocasta. Ao descobrir o acontecido, fura os próprios olhos numa atitude auto-punitiva.

Ao se desenvolver, a criança começando a reconhecer-se como sujeito separado de seus pais, encontra no pai a figura da ordem e na mãe a figura de uma espécie de “primeiro amor” e de proteção. Ao perceber que a mãe pertence ao pai, desenvolve-se uma certa hostilidade a ele. O fato de Pink crescer sem o pai gera um duplo sentimento de contradição em relação à mãe, ele não a disputa com ninguém, mas também não pode obtê-la.

Freud ainda dizia que na impossibilidade de se relacionar com a mãe – ou com o pai, no caso das meninas – o indivíduo passa a vida toda, mesmo que de forma inconsciente, buscando um parceiro que possua as características dos pais. Pink, novamente inseguro, só que dessa vez em relação ao relacionamento, busca na mãe a aprovação de seus pares, como percebemos no trecho acima. É como se a mãe tivesse que aprovar alguém a sua altura para poder relacionar-se com o filho, porém, quem busca a aprovação em si mesmo das pretendentes é o próprio Pink. O resultado é que ele não consegue levar seu relacionamento adiante pela impossibilidade de encontrar a própria mãe e pela castração que isso lhe causa.

É claro que o caso de Roger Waters exteriorizado na forma do personagem Pink é carregado de sentimentos exagerados, e não no sentido negativo do exagero, mas no sentido de perceber algo que acaba sendo recorrente na maioria das mães e que só percebemos se for arregaçado em nossa frente. A proteção é algo natural, saudável e importante para o ser humano, a crítica aqui fica por conta das mães que não entendem que em um determinado momento da vida seu bebê cresce e começa a andar com as próprias pernas, se tornando um comportamento doentio de superproteção.

Ainda dá tempo, dê um abraço na sua mãe, afinal, “Momma's gonna keep baby healthy and clean”



3 comentários:

  1. Excelente análise Dorfão. Muito boa. Eu ouvia essa música mais pensando no pai de Roger Waters e sua busca pelo conforto da mãe devido a ausencia dele. Não sabia que ele era tão novo quando o pai morreu.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O pai dele morreu bem cedo mesmo. Assista ao filme, mostra bastante essa (não) relação com o pai dele que acabou se refletindo na personalidade e consequentemente nas obras dele, o dark side tem algumas referências ao pai dele também.

      Excluir
  2. "Of course mamma is gonna help build the wall"
    Sua análise tá beeem legal, de verdade. Acredito que quase toda mãe tem uma fase "Pink's Mother" e que a superação dessa fase, assim como o alcance de um estado de maioridade mental (Kant) por parte da cria pode ser facilitada se houver um esforço de compreensão das duas partes. Mães e filhos só tem a crescer se entenderem que, em geral, um só quer o bem-estar e desenvolvimento do outro e todos possuímos características herdadas e próprias.
    Abraaaaaaço, Dorfão!

    ResponderExcluir