terça-feira, 27 de abril de 2010

Essa noite...

Essa noite eu não sonhei mais, acabaram os sonhos dentro de mim.
O que era dia virou noite, o que era amor já não é mais.
A alegria virou tristeza e eu já não sonho mais.
Não sonho mais com o futuro, o passado me entristece.
As coisas boas se foram, como o destino já havia planejado.
As mãos já não se tocam, o abraço não mais aquece e
eu já não sonho mais.
Sinto pelos beijos mal dados, pelas palavras mal ditas,
pelo olhar que se perdeu pelo caminho,
pelo que não fizemos na esperança de que o nosso amor fosse eterno,
Sinto pelo sonho que eu já não mais tenho.
Sinto ter demorado tanto pra te encontrar e te deixar,
aguardar talvez outras vidas para que de novo possamos nos encontrar.
E tudo tão assim, dentro de mim agora se vai,
vai vagar perdido, triste, desconsolado a procura de um novo sonho.
O mesmo sonho já nao mais, esse já nao sonho mais.
Acreditávamos ter um destino diferente dos outros,
acreditávamos sermos especiais, quanta pretensão a nossa.
Nossas vidas seguiram caminhos diferentes e hoje estamos aqui,
esvaziados, sem mais sonhar, sem mais planos
Apenas com a dor, de pensar no que poderia ter sido
E NÃO FOI...

sábado, 24 de abril de 2010

Se eu fosse embora hoje...

Se eu fosse embora hj,
Você choraria por mim? Quem se importaria?
Quantos olhos eu viria chorar, se eu fosse embora hj?
Andar sozinho na escuridão procurando ainda
algum brilho em seu olhar, tentar não me perder no
meio do caminho em outros olhares.
Me preparo pra partir, é triste quando o caminho acaba,
É triste quando nos sentimos impotentes, sem poder fazer nada
para voltar no tempo, para parar o tempo, para fazer você voltar pra mim.
E se eu fosse embora hj?
Talvez você se veria livre para alcançar novos vôos,
Garimpar novas almas e experimentar novos ares,
Procurar outros pares e facilmente você não se lembraria mais de mim.
Eu, mesmo partindo, indo embora levaria você comigo
para todo o sempre, já a tenho cravada na carne,
encrustrada na alma, e não me esqueceria.
Se eu fosse embora hoje, você até choraria, viria seus olhos marejados
Nossas bocas talvez se tocaríam uma última vez
Mas um novo caminho surgiria, você não pediria que eu ficasse
E indo embora você talvez se perguntaria se não
teria sido melhor me pedir pra ficar, ou ao menos chorar
Pra fingir ao menos sofrer seu fosse embora hoje.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A MORTE DE UMA MANHÃ

Havia tido naquela manhã um mal pressentimento. Sabia que lago não ocorreria a partir daquele momento. Quando saíra de casa ele ainda estava lá, jogado no chão, tomado pela febre, essa tão forte que fazia borbulhar o mercúrio do termômetro.
Mesmo deixando-o assim resolveu sair. Estava cansada e aproveitou aquela bela manhã para pensar, refletir, tomar um café na padaria, comer uma daquelas mais comuns roscas murchas do dia anterior. Tudo isso para fugir ou adiar o fato que seria inevitável.
Nada disso adiantava, o fim estava próximo.
Queria não ter que acompanhar seu sofrimento, por isso o deixou sozinho, o vaticínio daquela doença se realizaria de uma maneira ou de outra, era só uma questão de tempo.

O tempo passava, ela caminhava sozinha pensando em como seria horrível voltar ao seu apartamento e vê-lo daquela maneira, definhando pouco a pouco.
Era quase meio dia e o dia quante indicava que a febre naquele apartamento só aumentava.
Resolve voltar, mesmo contra sua vontade, mas volta.
Caminha depressa, agora já nem sabe mais porque, talvez na ânsia de ver tudo aquilo acabar.

Entra em seu apartamento e o vê, rígido. O chão abre-se aos seus pés. Não acredita naquilo que vê. Sua pele manchada mostra que já estava ali, morto, há meses, e para ela o tempo não passara mais do que algumas horas.

terça-feira, 20 de abril de 2010

PELAS CATRACAS

Segue então um dos contos que enfim vê a liberdade das gavetas empoeiradas da minha república.

Certa vez quando eu trabalhava no setor de contas de uma empresa me ocorreu um fato curioso. Não sei se devidamente curioso o que me aconteceu, mas diria que é algo que se deve ser contado, não sei se tirarão algo de proveitoso os leitores de minhas curiosidades, mas no momento o que me basta é contar-vos esse fato assaz interessante.
Como já disse, trabalhava em um setor de contas de uma empresa, que cobrava os senhores muito preocupados com seus outros deveres e muitas vezes se esqueciam de pagam suas dívidas com a minha empresa, e eu era o encarregado de cobrar-lhes. Digo minha empresa não porque ela era de fato minha, mas é porque não perdemos a mania de considerarmos o dos outros como sendo nossos também.
Bem, continuando, havia um senhor que eu deveria cobrar-lhe por algumas contas atrasadas. Já antecipo que o fato não está relacionado com o senhor que nos devia e sim com as circunstâncias que me envolveram no caminho.
A empresa situava-se no centro da cidade, cidade essa que não nos interessa o nome, deixemos as particularidades de lado, ou para quando for necessário. O nosso honorável devedor situava-se na zona sul da tal cidade e era necessário um coletivo que me levasse até o local. Pois bem, fui pegar aquele que me levaria até o local da cobrança.
Comecei a viagem que não era tão longa mas o calor a fazia mais demorada. Pela janela nada de mais, só o mais do mesmo de todos os dias. No meio do caminho foi que me ocorreu o tal fato que me ponho a contar. Não sei se por muita sorte do meu personagem ou se por muito meu azar, o coletivo em que estava quebrou, bem em frente ao ponto onde algumas pessoas subiam, não sabendo que dali não sairiam tão cedo.
Dentre as pessoas que ali entravam, entrava também meu personagem, talvez ficaria feliz em saber em saber que uma parcela de sua história está sendo contada por mim, ou nem tanto se soubesse o que penso sobre sua pessoa depois do que ocorreu.
Ele se pôs por último na fila dos passageiros, esperou todos passarem pela roleta e começou seu discurso. Era um homem pobre, talvez fosse um andarilho, morador de rua, ou qualquer coisa do tipo. Estava sujo e com os olhos mareados. Trazia um semblante sofrido, uma tristeza que não sei bem de onde nem bem porque, mas por um segundo chegou a me comover, as palavras que o acompanhavam traziam as mesmas dores.
Estava eu sentado à sétima fileira quando comecei a ouvir aquele senhor dizer tristemente suas palavras. Ele soubera naquela manhã que sua filha havia falecido e que gostaria de poder vê-la antes de ser enterrada, ela morava em outra cidade e que para visitá-la precisava do dinheiro da passagem que custava 25 contos e ele dispunha de somente 14 contos.
A história realmente era comovente, um homem querendo ver a filha falecida, uma filha que talvez não via há muito tempo. O velho chegou a ajoelhar-se e implorar para que o ajudassem. Comovido tirei um conto e dei-lhe, várias pessoas fizeram o mesmo, não contei mas creio que mais de dez pessoas o ajudaram naquele momento.
O homem recolheu o dinheiro arrecadado, foi descendo da condução já agradecendo a contribuição de todos quando o motorista pediu para que embarcássemos na condução que estava logo atrás e que seguia para o mesmo destino daquela que havia quebrado.
De pronto descemos e embarcamos na condução recomendada pelo motorista. Não estava da todo cheia, consegui um lugar para me sentar e já ia me preparando para recomeçar a viagem quando novamente o velho entrou, com o mesmo semblante triste e mesma história de filha falecida. Tudo bem que o velho continuasse a pedir ajuda para a visita póstuma, mas mesmo depois da ajuda recebida anteriormente ele ainda alegava necessitar dos 25 contos tendo somente os 14. Será que o velho não sabia contar? Será que tinha Alzheimer o homem que não se lembrava da esmola recebida a poucos minutos e ficaria pedindo a mesma quantia eternamente? A morte da filha seria só uma desculpa?
Confesso que senti uma séria desconfiança de que estava sendo enganado, era uma mistura de raiva com indignação, não pelo conto que lhe foi dado, mas de pensar que o velho teria utilizado a filha para abusar da boa vontade alheia.
O fato é que várias pessoas também o ajudaram. Teria sido constrangedor para o pobre homem se ele tivesse se dado conta de que eram praticamente as mesmas pessoas, mas ele estava muito concentrado em seu script que não percebeu algo tão irrelevante como esse.
O velho recolheu novamente as doações e ficou ali esperando o próximo ponto para poder descer. Fiquei intrigado em saber se o que ele contara era verdadeiro. Resolvi descer atrás do homem. Andei atrás dele por um tempo para ver se ele entraria em alguma outra condução, se entraria em algum boteco para gastar sua passagem com bebidas e jogos, fiquei observando-o.
Cansado de esperar por alguma reação que comprovasse minhas suspeitas resolvi abordá-lo para tirar toda aquela história a limpo. Perguntei-lhe se toda aquela história era verdadeira e ele me respondeu:
- Em partes sim. Minha filha já se foi e no dia eu fiz exatamente o que o senhor presenciou. Consegui uma boa quantia de dinheiro, enterrei minha filha e até hoje sobrevivo assim.
Fiquei chocado com aquele depoimento que acabara de ouvir e perguntei se ele não se sentia mal por enganar as pessoas com aquela história. Ele me olhou sinceramente e disse:
- Infelizmente para uns sobreviverem alguns tem que morrer, e às vezes morrem mais de uma vez.
Tirei mais alguns trocados do bolso, dei-os ao homem e segui meu caminho.

O início...

No início era o verbo...
E depois com a tecnologia vieram as imagens em jpg, os vídeos no youtube, os seguidores assíduos no twitter e cá estamos nós ainda na era do blog. Coisa ultrapassada pensam alguns, com tantas outras maneiras de se expressar hoje em dia na internet porque criar um blog??
Fato é que eu já havia criado a algum tempo, deu pau e eu abandonei, pensei que nem tivesse sido criado de verdade. Hoje estava eu, todo tranquilo tentando pesquisar alguma coisa sobre Petrarca na internet e me deparo com o meu google todo em espanhol.
Meu caro amigo Bolívia, que mora junto comigo aqui na república em Araraquara, usou e deixou em espanhol. Comecei a fuçar para poder deixá-lo na língua nos dos de cá da América do Sul e vi que estava lá "Você tem um blog". Pensei comigo: "já tive vontade de criar um blog, to aqui sem fazer nada, vamo que vamo!".
Aqui estou eu no parto, primeira vez escrevendo algo que eu não vá guardar na gaveta pra ninguém ler, acredito que aqui também ninguém vá ler, mas está aí, nascido mais um blog, graças ao espanhol boliviano de meu amigo.